Romancelhadas, Episodio III: Esta coisa de ficar para a Historia...

Romancelhadas são pequenas novelas...sem nexo de causalidade uma com a outra.

No ano 9 depois de Cristo (Cristo portanto tinha 9 anitos nessa altura salvo erro) , Luis Filipus Vieirae mais conhecido por Auriculus era o líder da auto intitulada "maior escola de gladiadores de toda a Lusitânia e do Mundo". Pelo menos era o que eles diziam na altura…nesse tempo ainda não havia cartão sócio como hoje em dia, a agência Deloitte ainda não fazia estudos nem estatísticas, e por isso bastava-lhes dizer que eram os maiores…no fundo, até era um pouco como hoje em dia...

Essa atitude era ditada pela mentalidade da época: as pessoas só gostavam de coisas grandes, tipo a pirâmide de Keops, o colosso de Rodes ou o Coliseu de Roma. E havia uma grande rivalidade para saber quem era o maior e quem fazia isto ou aquilo maior. Um dia, Auriculus, durante uma visita às pirâmides, ouviu um Egípcio gabar-se: " Vocês latinos não sabem construir coisas "mais grandes" que a malta aqui das margens do Nilo" Logo Auriculus, vermelho de raiva, aclamou: "Podes enfiar a tua pirâmide no olho do Ciclope (era assim que se dizia olho do cu em latim) Daqui por um ano, juro-te, construo uma maior no meu jardim" (Auriculus conseguia prometer coisas que sabia irrealizáveis com um ar muito credível, uma qualidade que mais tarde lhe daria muito jeito na sua vida profissional, sobretudo quando idolatrado por analfabetos)…Auriculus ficava irritadiço quando alguém se gabava de ter qualquer coisa maior do que ele. Ele que tinha as maiores orelhas de todo o Império Romano e arredores, não podia ouvir dizer isso! Um complexo que lhe vinha talvez das suas origens modestas, quando andava (só até à quarta classe) numa escola de Chelus, nos subúrbios pobres de Olissipo, maioritariamente frequentada por alunos númidas…ainda tentou ser amigo deles, principalmente quando houve uma moda em todo o Império Romano que era cool ter amigos pretos, e fazer "beats" como se dizia. No anfiteatro da escola, ele punha a mão em forma de concha à frente da boca e fazia « psht boom pssht boom boom » e abanava a outra com os dedos a formar um W ao contrario, enquanto o amigo preto aos pulos com os braços a bater o ar, dizia em latim: « E a todos os meus irmãos que estão aqui no anfiteatro deixem-me ouvi-los dizer ioooo ooooo » e os outros respondiam « ioooo oooo » E as todas as (bip) que eu (bip) aqui no anfiteatro deixem-me ouvi-las dizer ioooooo iooooo » e a plateia respondia « ioooo ioooo ». Ainda andou uns tempos nestas cenas, ele era o "home boy" Auriculus do seu amigo Nega’ Mantorrius e eram inseparáveis. Nessa altura andou também muito a lamber as botas a um líder importante do norte, chamado Pintus Costae. Como Auriculus o idolatrava, dizia-lhe que queria ser como ele quando fosse "mais grande". E cedo se fartou da sua triste existência e decidiu abandonar os amigos para "voar mais alto como um abutre". Deixou crescer um bigode farfalhudo, os dentes apodreceram naturalmente e seguiu outros caminhos na vida. Primeiro começou por ser traficante de rodas de carroça e de poções de druidas e fez umas vigarices com vendas de gladiadores ilícitas...para ganhar uns sestércios. Depois lançou-se no mundo dos jogos-espectáculo... tornou-se líder de um clube de gladiadores, a escola do Columbus SLB (Sem Limites na Batota) , cujo lema era « e pluribus unum », uma frase que os pobres gladiadores (que na sua vida de cativeiro tinham poucas ocasiões de encontrar mulheres) diziam sempre que era a vez de um deles de "levar por debaixo da túnica" como se dizia na altura. "E pluribus unum" uma frase que se traduziria mais ou menos por « e todos num ». Muito mais tarde esse lema viria a ser utilizado por equipas desportivas foleiras com uma certa tendência também para levar na peida, como se diz hoje em dia. A instituição de Auriculus era mais conhecida por Galinaeceos, por causa do emblema: uma ave parecida com uma galinha em cima de uma roda de bi-carroça (uma espécie de carroça a pedais só com duas rodas).

Nessa altura o Columbus SLB atravessava o período mais negro da sua historia. A verdade é que ainda antes de Auriculus assumir o comando, o "Galinaeceos" entrara em declínio, primeiro porque deixou de ser a escola preferida do regime imperial, do tempo em que os jogos eram só com pretos e brancos. Mas também muito por causa de uma escola rival, oriunda do norte lusitano, o Draconianus FC (Força e Coragem) da cidade de Portus Cale que tinha os melhores gladiadores e sob o comando magistral do seu ídolo doutrora, Pintus Costae, o Grande, vencia todos os jogos circenses. Apesar disso, todos os anos, com o seu ar convicto, Auriculus prometia aos seus seguidores que iriam ganhar tudo e eles aplaudiam todos contentes e ficavam todos satisfeitos a rir com os dentes podres e o mau hálito e a dar cotoveladinhas uns aos outros e a abanar a mona e a dizer "ena, ouviste? vamos ser campeões da Europa!". Mas a verdade é que acabavam sempre em 3° ou 4° no campeonato dos Circos Romanos, a Sagrus Ligae. Certo ano os seus gladiadores saíram humilhados dos jogos da taça de gladiadores europeus onde levaram uma carga de porrada histórica na capital Olímpica da Grécia. Uma verdadeira « comédia grega » como diziam em jeito de gozo os seus rivais Lusitanos. Nesse ano Auriculus tinha esvaziado os cofres do Columbus comprando novos gladiadores que ele prometia serem os melhores, mas que depois acabavam por parecer mais umas meninas desajeitadas na arena ao ponto de dar vontade de rir aos adversários. (Ao tempo que ele sonhava um dia conseguir revender um dos seus gladiadores por uma carrada de sestércios como faziam os Draconianus)

Nessa altura Auriculus, desesperado com o seu insucesso, tentava por todos os meios trazer o seu Columbus SLB de novo à ribalta. Tentou dar poções magicas proibidas aos seus atletas, mas um deles (por acaso muito fraquinho) chamado Nunassis foi apanhado e depois suspenso e Auriculus teve que abandonar a ideia. Tentou varias artimanhas para deitar abaixo a escola rival: calunias, manipulação das massas populares, tentativas de espoliação, jogos de bastidores, queixinhas ao presidente da liga de gladiadores. Enfim, se a expressão "foi um grande filho da puta" existisse na altura ( e em latim) provavelmente algum historiador romano lha teria dedicado em jeito de epíteto num livro intitulado "a historia da vida de Auriculus"...só que nenhum historiador latim se lembrou de escrever a historia da vida de uma personagem tão insignificante, e cuja vida de insucessos e de manigâncias não mereceu a escrita de nenhum livro...E dele não se pode dizer que a Historia o tenha condenado, não, nunca foi é recordado...ficou simplesmente esquecido da Historia, na qual se por acaso tivesse ficado, seria certamente conhecido hoje em dia como "Auriculus, o coitadinho que muito prometeu, mas nunca nada venceu".

Salve Sodales !

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com factos reais é mera coincidência. Qualquer semelhança com o ridículo e absurdo de um certo dirigente desportivo falhado e incompetente é pura intencionalidade.

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